Cineasta, produtor, cenógrafo, ensaísta, escritor e curador, Isaki Lacuesta é um dos mais interessantes e destacados artistas espanhóis da atualidade. Com um corpo de trabalho que faz disparar o diálogo entre o cinema e as mais diferentes áreas artísticas, tem na versatilidade um dos mais importantes traços de uma obra que derrete as fronteiras entre a cultura académica e a cultura popular. Tendo ocupado um lugar na crítica de cinema muito antes de se tornar realizador, não é de espantar que o discurso artístico de Lacuesta se construa em cima de um convite constante para a multiplicação dos pontos de vista e formas de olhar, uma premissa que se espalha para lá da tela na várias experimentações e incursões artísticas que pautam o seu percurso. Da dança, à música, da pintura, à literatura ou arquitectura, é longa e multiversa a lista de áreas em que o espanhol tem vindo a intervir. Com mais de uma mão cheia de filmes e documentários para TV, a sua obra tem vindo a ser mostrada um pouco por todo o mundo, em espaços tão referenciais como o MOMA, a National Gallery em Washington ou o Centro Pompidou em Paris.
O programa seleccionado para a secção InFocus do Curtas de Vila do Conde incluirá curtas e longas metragens, assim como a primeira exposição do autor em Portugal. A ter lugar na Solar – Galeria de Arte Cinemática a mesma versará sobre a dimensão expositiva do trabalho de Lacuesta, que estará presente em Vila do Conde para apresentar os seus filmes e participar de uma conferência aberta a jornalistas e público. Isaki Lacuesta será acompanhado por Isa Campo, parceira inquestionável de criação, quer na escrita da maioria dos argumentos dos seus filmes, quer na partilha da sua realização. O Curtas Vila do Conde decorre, este ano, entre 3 e 11 de outubro apresentando um novo formato, adaptado à nova realidade e hábitos de consumo. A par da edição em sala que volta a ter como espaços centrais o Teatro Municipal de Vila do Conde, o Auditório Municipal e a Solar, o evento promoverá um conjunto de iniciativas em formato online, alargando assim a sua área de acção e permitindo que o encontro entre o público e os cineastas possa acontecer de forma segura e próxima. Previstas estão então a calendarização de sessões em formato VoD, numa parceria com a Shift72, assim como a realização de debates, entrevistas e masterclasses em ambiente virtual.
A programação do festival será revelada no decurso dos próximos meses, assim como os detalhes sobre a compra de bilhetes.
O 28º Curtas Vila do Conde tem o apoio do programa MEDIA/Europa Criativa, da Câmara Municipal de Vila do Conde, do Ministério da Cultura, do Instituto do Cinema e Audiovisual e de vários parceiros imprescindíveis à realização do festival.
No dia em que seria inaugurada a 28ª edição do Curtas Vila do Conde, 11 de julho, o festival vai celebrar o formato da curta-metragem de forma alternativa, com uma sessão especial no espaço Drive-In, instalado na Seca do Bacalhau em Vila do Conde.
Apesar de mais recente, a Competição Experimental é já uma das imagens de marca do Curtas Vila do Conde, apresentando a vanguarda e o melhor do que é feito anualmente no mundo dentro desta área, através de uma seleção rigorosa, mas também arrojada. É no cinema experimental, associado em grande parte às curtas-metragens, onde encontramos as propostas mais arriscadas, uma procura permanente em esticar os limites do cinema, quer nos seus diferentes formatos físicos ou digitais, quer nas suas formas não narrativas, um espaço onde se procura encontrar algo de inovador, algo que ainda surpreenda. No Curtas, a vertente experimental ganhou um espaço próprio, ainda antes de se tornar numa secção competitiva oficial, já que alguns dos filmes exibidos e até premiados se aproximavam desse campo. A partir de 2003 começou-se a premiar, dentro da Competição Internacional, o melhor filme experimental, como já acontecia com o documentário ou a animação, por exemplo. E desde 2009, ou seja, há onze edições, que o festival apresenta uma Competição Experimental, um programa autónomo que cada vez mais se afirma como uma vertente muito entusiasmante do cinema.
É na edição de 1995 do Curtas, a terceira, que podemos desde logo começar a reconhecer alguns dos nomes mais importantes do cinema experimental das últimas décadas, e uma prova que mesmo antes da criação de uma competição própria, este cinema já ganhava protagonismo no festival. Nessa edição, foram premiados dois nomes cujo trabalho poderia ser acompanhado nas edições futuras: Matthias Müller, Grande Prémio para Melhor Filme em 1995, é um realizador prolífico e inovador, que desde cedo trabalhou imagens de found footage para criar belos filmes-poema ou filmes-ensaio, apresentando mais de vinte filmes ao longo da história do Curtas, em nome próprio e em colaboração com Christoph Girardet, cineasta precursor na forma como utiliza imagens de outros filmes para criar novas histórias. Nesse ano de 1995 foi também premiado com uma menção honrosa Jay Rosenblatt, cineasta que explora as possibilidades do formato do documentário e do recurso a imagens de arquivo para procurar novas formas de reavivar o passado - seria também galardoado em 1998 com o prémio para Melhor Documentário e vários dos seus filmes seriam exibidos na Competição Experimental.
O primeiro prémio com o selo de Melhor Filme Experimental acontece em 2003, ainda como parte da Competição Internacional, para a realizadora americana Deborah Stratman, pelo filme “In Order Not to Be Here”. Stratman, uma multifacetada artista e uma das vozes mais originais e distintas da sua geração, estaria ainda presente em diversas edições do festival, quer na Competição Internacional, quer na Experimental, prova do seu cinema híbrido e entre géneros, mas sempre político e pessoal. Seria novamente vencedora em 2014, com “Hacked Circuit”. Rosa Barba é, a par de Deborah Stratman, a única a ser duplamente premiada nesta competição, vencedora em 2016 com “Bending To Earth” e em 2017 com “From Source to Poem”, obras que abordam a natureza ambígua da realidade e da memória, e que examinam a sociedade, o Homem, ambientes e paisagens como materiais para criar novas possibilidades, novas histórias, novas formas assombrosas de olhar para o mundo.
Outro nome que cedo se destacou no Curtas é Nicolas Provost, vencedor do prémio para Melhor Filme Experimental em 2004 com “Oh Dear”. Cineasta belga cujas obras foram presença assídua no festival durante vários anos, explora a natureza ilusória do cinema e as fronteiras entre a ficção e a realidade, quando por exemplo transforma o quotidiano num filme de ficção que segue códigos narrativos e cinematográficos em “Plot Point” ou “Stardust”. Em 2005, foi a vez de Peter Tscherkassky ser premiado com “Instructions for a Light and Sound Machine”, um realizador que conta com mais de dez presenças no Curtas, com obras que exploram continuamente as possibilidades do arquivo e found footage. Ainda antes da criação desta competição, Ben Rivers foi premiado em 2008 com o Melhor Filme Experimental, por “Ah, Liberty”. Rivers é um dos artistas contemporâneos mais relevantes pela sua constante procura de inovação e experimentação na representação da relação do Homem com a sociedade, recorrendo muitas vezes a imagens de 16 mm; o realizador conta com diversas participações no Curtas, quer seja em nome próprio, quer em colaboração com Ben Russell, outro inovador artista multimédia, que trabalha sobre a história do cinema e a gramática cinematográfica, numa forma de antropologia visual - a dupla foi homenageada na edição de 2005.
O primeiro prémio desta competição criada em 2009 foi para o prolífico artista F. J. Ossang - além de realizador é escritor, editor, poeta e músico. O seu trabalho cinematográfico, sempre enigmático, de influência punk e de um estilo idiossincrático, foi homenageado com uma retrospetiva integral em 2017 no Curtas. Vencedor em 2011 da Competição Experimental com “The Push Carts Leave Eternity Street” e um realizador com presença regular no Curtas, Ken Jacobs é um dos nomes fundamentais do cinema experimental das últimas décadas: desde os anos 60 e 70 na vanguarda da exploração das possibilidades do cinema, o seu trabalho passa muitas vezes pela apropriação e montagem de imagens de found footage para criar as suas próprias obras, mas também pela utilização dos seus home movies, com algumas aventuras por experiências estereoscópicas e tridimensionais, sempre na procura de inovação e novos caminhos. Jacobs foi um dos realizadores em foco na edição de 2010, e venceu o Grande Prémio para Melhor Filme na edição de 2007, pela dupla de filmes “Capitalism: Child Labor” e “Nymph”.
Bruce Conner é outro gigante do cinema experimental e avant-garde, realizador de algumas das mais importantes obras deste género, e que conta também com diversas passagens pelo Curtas, na Competição Internacional e mais tarde Experimental, mas também como alvo de homenagem em 2011 pela forma como o seu trabalho pode ser visto como precursor dos vídeos musicais. Na edição de 1997 o Curtas dedicou uma retrospectiva a Kenneth Anger, outro pioneiro e nome fundamental do cinema experimental e da sua história - desde a sua primeira curta de 1937 que este realizador underground reinventa linguagens e possibilidades, numa fusão entre o abstracionismo e o conceptual, que o festival tem dado a conhecer ao longo dos anos. Um dos autores em destaque na edição de 2002 e presente em diferentes secções e edições do Curtas, especialmente entre 1999 e 2005, Gustav Deutsch é outro cineasta experimental cujo trabalho o festival tem acompanhado, destacando-se o seu interesse na fenomenologia do filme (película) e a sua série de filmes “Film-ist 1-6”. Figura incontornável do movimento cinematográfico estruturalista e da arte minimalista, Morgan Fisher tem uma longa carreira como artista multifacetado, focando a sua actividade fílmica na obsolescência da película como meio físico e de expressão artística - foi o vencedor da Competição Experimental em 2018, com “Another Movie”, uma espécie de homenagem a “A Movie” (1958), o filme de Bruce Conner que é reconhecidamente um dos trabalhos mais marcantes da história do cinema experimental.
Além destes nomes icónicos do cinema experimental, o Curtas procura dar a conhecer novos talentos emergentes, cineastas dispostos a arriscar de forma a encontrar um olhar diferente sobre o cinema. O Curtas tem acompanhado e dado a conhecer em primeira mão autores que podemos enquadrar já como de uma outra geração de cineastas experimentais. Bill Morrison, cujo trabalho o Curtas exibe desde 2004, é um dos artistas actuais mais relevantes no campo do found footage, utilizando as deformações e distorções encontrados na deterioração da película de filme para criar assombrosas novas composições, como é o caso de “Light is Calling”. O austríaco Rainer Kohlberger tem sido uma presença assídua nos últimos anos, continuando a explorar os territórios entre cinema e música, e a trabalhar a partir de uma variedade de algoritmos com o objetivo de criar, e posteriormente manipular, o ruído da informação da própria imagem de uma forma sempre inovadora.
É com enorme tristeza e grande pesar que o Curtas Vila do Conde lamenta o falecimento de Vicente Pinto Abreu, no dia de ontem, 27 de maio 2020. Membro importante da família do Curtas, e um amigo querido de todos os envolvidos no festival, foi parte integrante da sua história durante muitas edições: integrou a Comissão de Seleção da Competição Nacional de 2007 a 2014, e de 2015 a 2019, e a Comissão de Seleção da Competição Internacional de 2007 a 2011 e em 2015, e a Comissão de Seleção da Competição Vídeos Musicais em 2008; era também, desde 2009, um dos rostos mais importantes do festival no acompanhamento aos júris e convidados. Ao longo dos anos, são inúmeras e inesquecíveis as suas actuações como DJ, quer em nome próprio, quer como parte dos “7 Magníficos” . Capaz de desarmar e encantar qualquer um com o seu conhecimento - e paixão - por cinema e música, é uma perda irreparável para a nossa comunidade. O festival apresenta as nossas sentidas condolências aos familiares e amigos.
A Competição Nacional teve a sua estreia na terceira edição do Curtas, em 1995. É a segunda competição do festival com maior longevidade, atrás apenas da Competição Internacional. A história desta competição é também a história do Curtas e intimamente ligada ao que de mais importante aconteceu no cinema português nas últimas três décadas. Isso torna-se evidente ao recordar alguns dos nomes que encontraram aqui um espaço para florescer e expandir a sua visão artística, em particular num período de renovação e reinvenção do cinema português a partir da década de 90, que levou mesmo à popularização da expressão “Geração Curtas”, cunhada por Augusto M. Seabra. Escrevia este em 1999, no jornal “Público”: «A maioria destes autores diferenciam-se dos mais velhos no sentido de que não os anima nenhum particular espírito de missão em reproduzir uma qualquer imagem dominante do “cinema português”, interessam-se em fazer arte cinematográfica e basta». Uma prova da validade atual desta afirmação é a forma como durante o período da última crise económica em Portugal e de escassez de apoios ao cinema, as curtas-metragens voltaram a mostrar-se essenciais para vislumbrar o futuro do cinema português.
Um dos autores mais importantes associados à “Geração Curtas” e cujo percurso foi acompanhado pelo festival de perto desde o início é Miguel Gomes, que apresentou o seu primeiro filme “Entretanto” na edição de 1999. O filme, que acompanha um trio de adolescentes em dias de Verão sob o efeito de encantamentos amorosos e indefinições internas num retrato etéreo e melancólico, venceu o prémio de Melhor Realizador da Competição Nacional, revelando desde logo um cineasta em afirmação, à procura do seu próprio cinema. Nos anos seguintes Miguel Gomes seria uma presença regular no festival, reinventando-se a cada novo filme, como “Inventário de Natal” (2000), “Kalkitos” (2002), “31” (2002) e “Cântico das Criaturas” (2006), com o qual venceu o prémio para Melhor Filme. O festival assistiria mais tarde à estreia das suas longas-metragens, como “Aquele Querido Mês de Agosto” (2008) e a trilogia “As Mil e Uma Noites” (2015).
Outro autor indissociável deste período do cinema português e que deixou por várias vezes a sua marca nesta competição, é João Nicolau. O realizador apresentou a sua primeira obra na edição de 2006, “Rapace”, um poema-musical com notas sentimentais e humorísticas sobre as aventuras de um rapaz, com a qual venceu o Grande Prémio para Melhor Filme; mais tarde com “Canção de Amor e Saúde” (2009) seria premiado com o Melhor Filme da Competição Nacional, e apresentaria ainda “O Dom das Lágrimas” (2012, fora de competição) e “Gambozinos” (2013, menção honrosa da secção Curtinhas), filmes que permitiram acompanhar o apurar de um singelo sentido visual.
Porém, falar da “Geração Curtas” é falar de Sandro Aguilar, que tem sido uma presença constante ao longo do festival quase desde a sua primeira edição, e é um dos nomes mais relevantes do cinema português dos últimos anos, não só pelo seu trabalho como realizador e editor, mas também pelo seu importante trabalho como produtor (produziu por exemplo os primeiros filmes de Miguel Gomes e João Nicolau, mas também filmes de Manuel Mozos e Ivo Ferreira). Em 1998, era citado por Augusto M. Seabra: «Quem está a fazer hoje curtas-metragens tem um olhar diferente das gerações precedentes. Alguns são provocatórios e apostam na possibilidade de não se precisar de uma história narrativa. Assim se criam cineastas potenciais». Com um estilo visual distinto, mais próximo do experimental e sensorial, o Curtas tem permitido acompanhar ao longo dos anos as diferentes permutações de um cineasta sempre disposto a arriscar: em 1998 foi o vencedor do Prémio para Jovem Cineasta Português com o filme “Estou Perto”; em 2001 o seu filme “Corpo e Meio” foi o vencedor do Prémio para Melhor Filme da Competição Nacional, e também o nomeado do festival para os European Film Awards, nomeação que repetiu em 2005 com “A Serpente”; depois de várias presenças na competição Nacional, apresentou em 2017 a sua segunda longa-metragem, “Mariphasa”.
Se ao longo dos diversos palmarés do Curtas na sua história de 27 edições, alguns filmes portugueses foram galardoados em categorias que vão além desta competição, só em 2006 o prémio principal do festival - o Grande Prémio para Melhor Filme em Competição (que engloba todos os filmes em competição, nacionais e internacionais) foi atribuído pela primeira vez a um filme português: “Rapace” de João Nicolau. Se só ao fim de 13 edições este prémio foi atribuído a um português, voltaria a acontecer outra vez só em 2013, na vigésima edição do Curtas, com “Carosello” de Jorge Quintela. No entanto, recentemente algo parece ter mudado e esta barreira quebrada: Filipa César foi galardoada com o Grande Prémio em 2015 por “Mined Soil”, e em 2017 Marta Mateus recebeu igual distinção por “Farpões Baldios”.
Estas novas ocorrências parecem também assinalar uma outra tendência, que é o facto de cada vez mais os filmes premiados pertenceram a realizadoras portuguesas, resultado de uma bem-vinda alteração no paradigma no panorama da produção nacional. Além dos nomes referidos, o Curtas tem dado a conhecer novas autoras como Ana Maria Gomes (em 2016, com “António Lindo António”), Alice Eça Guimarães e Mónica Santos (Prémio do Público em 2015 com “Amélia & Duarte, e em 2018, com “Entre Sombras), Salomé Lamas (Melhor Documentário em 2012 para “Comunidade”) e Leonor Noivo (menção honrosa em 2012 para “A Cidade e o Sol”), ou os mais recentes prémios na categoria de Melhor Realizador: Margarida Lucas (2015 com “Rampa”), Ana Moreira (2018 com “Aquaparque”) e Mariana Gaivão (2019 com “Ruby”).
Vários outros nomes ao longo dos anos ajudaram a construir uma identidade do Curtas e também uma nova identidade para o cinema português. O primeiro português premiado no Curtas foi na verdade Abi Feijó, nome incontornável da animação nacional, na segunda edição em 1994, ainda antes da criação de uma Competição Nacional. Em 1995 o primeiro prémio para a Competição Nacional foi atribuído a Marco Martins (por “Mergulho de Ano Novo”, co-realizado com João Braz), realizador que mais tarde seria premiado em Cannes com a sua primeira-metragem “Alice” (2005); tal como Martins, outros nomes foram distinguidos em início de carreira com o prémio para Melhor Filme, como Inês de Medeiros em 1998, Margarida Cardoso em 1999, Jorge Cramez em 2002, Rodrigo Areias em 2008; ou ainda Ivo Ferreira em 1999 (prémio Jovem Cineasta Português), Daniel Blaufuks em 2001 (Melhor Realizador). Além destes nomes, o festival permitiu descobrir as incursões no formato da curta-metragem de autores consagrados, como Pedro Costa (prémio para Melhor Filme em 2011, com “O Nosso Homem”) e João Pedro Rodrigues (2012, nomeação para os European Film Awards com “Manhã de Santo António” e 2017, Melhor Filme com “Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?”), este uma presença assídua no festival, várias vezes também em colaboração com João Guerra da Mata, como no caso do filme encomenda do Curtas, “Mahjong” (2013).
Na já longa história do Curtas, e dos inúmeros e valiosos autores que passaram pelo festival, há porém uma curiosidade a salientar: três nomes venceram por duas vezes a Competição Nacional, deixando a sua marca no palmarés com o seu cinema do social ao documental ao íntimo e pessoal: Pedro Caldas, com “Pedido de Emprego” em 2000, e em 2007 com “Europa 2007”; Miguel Clara Vasconcelos com “Documento Boxe” em 2005 e “O Triângulo Dourado” em 2012; e Basil da Cunha com “À Côté” em 2010, e “Os Vivos Também Choram” em 2012. Recentemente tem sido Gabriel Abrantes, outro prolífero autor com várias presenças no Curtas, cuja veia criativa revela um irreverente e imprevisível autor sempre disposto a arriscar e a reinventar-se, que tem sido distinguido com vários prémios: menção honrosa em 2011 (com “Fratelli”, co-realizado com Alexandre Melo), Melhor Realizador em 2016 e 2017 (com “A Brief History of Princess X” e “Os Humores Artificiais”), e Melhor Ficção em 2019 (“Les extraordinaires mésaventures de la jeune fille de pierre”).
Se a história do Curtas e da competição nacional é a soma dos seus vários autores e visões, o seu futuro será também um espelho do que presenciamos até agora: surpreendente, entusiasmante, tentador, vital e em permanente renovação e reinvenção, que corresponda a um desejo de intervir artisticamente sobre o mundo. Ou seja, regressando ao texto sobre a “Geração Curtas”: «fazer arte cinematográfica e basta».
(João Araújo)