Cabe a Sandro Aguilar, Manuel Mozos e Lois Patiño realizar os próximos três documentários no âmbito do programa Campus, desenvolvido pela Curtas Metragens CRL. O programa foi apresentado durante o 22º Curtas Vila do Conde.
O programa Campus é uma formação avançada de cinema, composta por workshops, debates, masterclasses, residências artísticas e a produção de filmes, em que realizadores com comprovada experiência trabalham com equipas de estudantes. O programa está direcionado para estudantes de cinema e audiovisual da região Norte e complementa as formações universitárias. O Campus está associado a várias universidades do Porto, com as quais tem protocolos de colaboração.
Os filmes a produzir no contexto do Campus serão documentários a desenvolver nos próximos meses, envolvendo três realizadores: Sandro Aguilar, Manuel Mozos e Lois Patiño. Serão filmes sobre as realidades sociais da região Norte. Por outro lado, as residências artísticas envolverão artistas, músicos e cineastas que trabalham na fronteira entre o cinema e as outras artes.
No âmbito do Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema, a decorrer até domingo, vão ter lugar dois debates cujo objetivo é potenciar a divulgação e distribuição dos filmes nacionais (ver mais pormenores no fim do texto).
O Campus é um programa que se autonomizou do projeto Estaleiro – desenvolvido entre 2011 e 2012 – e de que resultaram diversos filmes premiados e com um percurso internacional notável. Entre outros, foram produzidos filmes de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, João Canijo, Gonçalo Tocha ou Graça Castanheira.
É desenvolvido pela Curtas Metragens CRL, responsável pelo Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema, co-financiado pelo QREN, no âmbito do Programa Operacional Regional do Norte (ON.2).
A exemplo do sucedido em anos anteriores, o Curtas Vila do Conde promove os habituais Encontros com Realizadores, potenciando um espaço de debate e reflexão sobre o panorama do cinema português. Os realizadores, com filmes a concurso e presentes em Vila do Conde para apresentarem as suas obras, são convidados para uma conversa com o público.
(foto da edição 2013)
Quarta, dia 9 - Mariana Gaivão, Pedro Neves, Sérgio Ribeiro e Salomé Lamas
Quinta, dia 10 - Nuno Amorim, Jacinto Lucas Pires, Miguel Clara Vasconcelos e Patrick Mendes
Sexta, dia 11 - Rodrigo Areias, Francisco Botelho, Sandro Aguilar, Teresa Villaverde e Simão Cayatte
Sábado, dia 12 - David Doutel, Vasco Sá, Marco Amaral, João Rodrigues e Gabriel Abrantes
(Os Encontros com Realizadores decorrem no Lounge Curtas, no Teatro Municipal, pelas 16h15)
O Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema assistiu, ontem, a uma das maiores afluências de público de sempre!
Quer a exibição do filme «Matraquilhos», no arranque da secção Curtinhas, quer a ante-estreia nacional de «Night Moves», o mais recente filme da realizadora norte-americana Kelly Reichardt, registaram casa cheia, batendo o recorde de público no festival naquele que foi o seu primeiro dia.
Para além da competição nacional, que todos os anos constitui o prato forte do Curtas Vila do Conde, o festival inclui na sua programação o Panorama Nacional: uma seleção de curtas-metragens portuguesas que já passaram por outros festivais nacionais. É uma oportunidade para ver alguns filmes singulares que complementam a competição, mostrando o melhor que se produziu no último ano.
Neste ano, serão exibidos filmes de Carlos Conceição e Margarida Rego (ambos estreados no Festival de Cannes), Diogo Costa Amarante (filme em competição no Festival de Berlim), Tiago Guedes, Francisco Ferreira, Laura Gonçalves e Luís Vieira Campos. Este último é o realizador do filme «Bicicleta», com argumento original de Valter Hugo Mãe. O escritor, natural de Angola mas radicado em Vila do Conde há vários anos, estará presente no festival para assistir à apresentação do filme, marcado para amanhã, domingo, pelas 23 horas.
A realizadora Kelly Reichardt é um dos novíssimos nomes do cinema americano independente. Vinda da tradição de rebeldia e de produção de baixo-custo, Reichardt entronca numa linhagem que parte da Nova Hollywood dos anos 70 e que tem os seus ícones máximos, no cinema contemporâneo, em Gus Van Sant e Todd Haynes. Com uma curta mas já relevante carreira, a cineasta perscruta as histórias dos marginalizados e esquecidos pelo sistema, sobretudo na geografia simbólica do estado do Oregon, um dos estados mais a oeste da América e também um dos menos conhecidos. Essa América profunda é uma zona de cidades pequenas, de economia frágil e onde melhor se encontra a ideologia liberal do capitalismo.
Excerto da entrevista a Kelly Reichardt, realizada a propósito desta retrospetiva.
Gosto do processo de filmar, tentar perceber o que se vai passar: mudar um pneu, cozer pão ou construir uma bomba (como em “Night Moves”). Na minha opinião, um momento ideal de cinema é como uma cena de “Fugiu Um Condenado à Morte” (1956, Robert Bresson) – sabemos, por causa do título, o que se vai passar e depois vemos alguém a retirar as molas do colchão e a uni-las para fazer uma corda. Gosto disso. Interessam-me os gestos minimalistas e como podem ser, de certa forma, o símbolo de algo muito maior. Conhece o realizador chinês Jia Zhangke? Lembro-me de um documentário que ele fez sobre a China industrializada. Há uma cena que dura imenso tempo. É a de um homem que está a apanhar o autocarro. Faz frio lá fora e ele veste apenas um casaco leve, e durante vinte minutos estamos apenas a ver este fulano a tentar puxar o fecho de correr. E o fecho está avariado. É um plano apenas: uma paragem de autocarro e um homem, ao frio, a tentar consertar o fecho. Ficamos na companhia deste homem tanto tempo que temos a sensação de que o mundo todo nos está a ser entregue. É muito para além daquele homem, é acerca da luta de todos, mas só lá está este fulano e um fecho de correr. Vi o filme há muitos anos, mas estou sempre a pensar naquele fulano e no fecho de correr.
(Pode ler um excerto desta entrevista no Jornal do Curtas e a sua totalidade no Catálogo de 2014).
Com uma exposição que lhe é dedicada patente ao público na Galeria Solar, Michelangelo Antonioni, cineasta italiano, e um dos fundadores do cinema moderno, está também em destaque no Curtas Vila do Conde.
No domingo, pelas 21 horas, será exibido aquele que foi o primeiro filme a cores realizado por Antonioni. Obra-prima da maturidade do cineasta italiano, “Deserto Vermelho” conta a história de Giuliana (Monica Vitti), uma jovem mulher que sofre uma crise mental e emocional, embarcando num caso amoroso. Vitti – amante e musa de Antonioni e a estrela dos seus filmes anteriores “L'avventura”, “L'eclisse” e “La notte” – tem uma performance deslumbrante. Um filme que também é um clássico do cinema.