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2008 - RAZZLE DAZZLE - THE LOST WORLD

RAZZLE DAZZLE - THE LOST WORLD

Ken Jacobs

 · 

2007

 · 

EUA

 · 

92

'

Em 2006, KEN JACOBS pegou num filme produzido em 1903 por Thomas Edison e transformou-o numa máquina infernal. O título do filme de Edison é Razzle Dazzle. Jacobs intitulou o seu filme Razzle Dazzle: The Lost World. O subtítulo refere-se ao mundo do filme original, que Jacobs excava durante 92 minutos para revelar o crânio que se encontra por debaixo da pele. Nesse momento, o mundo perdido, passa também a ser nosso. Tom, Tom, the Piper’s Son (1969) de Jacobs – um clássico da vanguarda norte americana que foi incluído no National Film Registry no ano passado - é também baseado num filme antigo de G. W. “Billy” Bitzer (1905) e é uma adaptação da rima infantil do mesmo nome. Jacobs refilmou o original (que retrata as aventuras de Tom e do seu porco roubado) usando o que agora parecem ferramentas ridiculamente primitivas: uma câmara de 16mm Arriflex e um projector de velocidade variável. Tratando-se de um exigente e formalmente elegante trabalho meditativo, o Tom Tom de Jacob foi provavelmente melhor descrito pelo próprio realizador: Fantasmas! Gravações cinematográficas de actividades enérgicas de pessoas que morreram há muito tempo… Eu queria “trazer à superfície” essa colisão multi-rítmica de duas áreas bidimensionais, uma clara e outra escura, lutando em cada extremo por uma identidade da forma… para entrar no grão amebiano do próprio padrão… trazido de volta à vida pelo bater nas nossas retinas com sucessivos 16-24 frames por segundo, energias fervilhantes… colaborando, ironicamente, e formando a sempre–incisiva-porque sempre-passada ilusão As paixões que levaram Jacobs de Tom, Tom a Razzle Dazzle com muitos espectáculos ao vivo de sombras em 2-D e 3-D e performances de “Nervous System” e de “Nervous Magic Lantern”pelo meio, estão implícitos na afirmação do realizador: a dedicação à história está inscrita na imagem fotográfica; salvação e redenção através de uma arte de detritos – recuperando não só objectos culturais “sem valor” mas também seres humanos (vejam-se os vagabundos que habitam filmes de Jacobs tão antigos quanto Blonde Cobra [1959–63] e o seu épico de sete horas Star Spangled to Death [1956–2004]); a exploração do acto de ver em toda a sua complexidade óptica/neurológica/psicológica e , correspondentemente, das propriedades do aparelho de exibição cinematográfica e do próprio material fílmico; e o desejo de criar imagens que são tão fortes e imersivas quanto efémeras. Jacobs foi pintor antes de ser cineasta e foi estudante de Hans Hofmann e a sua injunção, “manifestar um acontecimento tridimensional numa superfície bidimensional” tem sido, formalmente, o ponto de partida para todos os trabalhos de imagem em movimento de Jacobs. A intensidade dos filmes de Jacobs e das suas performances cinematográficas, que rendem homenagem à abstracção sem serem abstractas, não é uma questão de efeitos ópticos. As suas obras vão ao coração do nosso sistema de crenças minando e sabotando o ilusionismo fotográfico e são impelidas por uma raiva contra o capitalismo e os seus alicerces na economia de guerra. Há cerca de 10 anos, Jacobs começou a traduzir o seu método analógico de examinar found footage, o “Nervous System” (que é composto essencialmente, por um stereopticon de imagens em movimento que usa dois projectores de velocidade variável que partilham um obturador configurado para produzir um efeito strobe) em software de pós-produção digital. Razzle Dazzle é uma de várias longas-metragens e de dezenas de curtas que resultaram desta abordagem visionária à tecnologia digital, e que é ainda mais espantosa dado que Jacobs tem 75 anos de idade. Para Razzle Dazzle, Jacobs e o seu assistente, o whiz kid digital Erik Nelson, juntaram dois programas standard de montagem vídeo - Final Cut Pro e Modul8—para criar uma experiência de terror visceralmente e cineticamente pulverizadora. A metáfora subjacente a Razzle Dazzle é a inocência vigarizada. A curta de Edison mostra uma atracção de um parque de diversões, o Razzle Dazzle, uma plataforma em forma de donut que gira e ondula e está suspensa numa base tipo mastro. Raparigas de todas as idades em vestidos de verão brancos estão sentadas na maquineta que gira com as pernas de fora e a abanar. Quase desde o início que o filme de Jacobs evoca a sensação de enjoo e também a emoção deste tipo de atracção. O movimento arranca-pára das imagens, os grandes planos contrastados das caras brancas caindo pela escuridão, a gravação riscada de uma valsa quase fúnebre tocada em piano, os trovões assustadores, e o strobe contínuo da luz desencadeiam um sentimento de terror, intensificado pelo vermelho que infiltrou a imagem como se fosse sangue. De forma intermitente, Jacobs interrompe a manipulação digital do filme de Edison com um tratamento “Nervous System” de grupos de imagens de stereopticon que no seu conjunto sugerem as tendências expansionistas dos Estados Unidos no virar do século XIX, que levaram às chacinas da Guerra Hispano-Americana e à Grande Guerra. Justamente antes das mais horríveis imagens de guerra, ouve-se o próprio Edison na banda sonora exaltar a coragem da América e dos seus aliados durante a Guerra. A progressão de Razzle Dazzle em direcção à morte e à destruição é pontuada por momentos nos quais a transformação digital do espaço e do tempo é tão surpreendente, e sim, esteticamente tão agradável, que emociona. Mas eventualmente o horror abrange tudo. A imagem, que se torna verde opalescente e azul parece mover-se e decair. Finalmente, um globo repleto de crânios e ossos gira sobre um campo de esqueletos. Na mais breve das codas, Jacobs dá-nos uma réstia de esperança: A cara sorridente de uma das raparigas emerge da escuridão e, tal como um fantasma, vem saudar-nos.

 

[DIR]

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