Foi uma encenação. Um casal caminha em direcção à câmara, uma grelha de ventilação no passeio levanta o vestido da mulher. O tecido da saia ondula e ela fica envergonhada. A câmara de filmar que já estava a postos e a rodar captura o acontecimento e a consternação da jovem passa à história, agora transferida para digital e exibida em toda a parte. Nesta reavaliação cinematográfica, a acção é simultaneamente acelerada e refreada. Como é possível? A progressão geral é prolongada para que um minuto de imagens gravadas leve dez minutos a passar no ecrã. Câmara lenta? Não. Em vez disso, a acção de rua encontra-se com uma necessidade de ver mais, e desce então sobre o acontecimento uma tempestade repentina de técnicas de investigação sob a forma de uma máquina de gerar frames de cinema, fazendo um loop dos minúsculos intervalos de tempo que formam a situação. Incluem-se intervalos pretos e entram em jogo eternalismos o que significa que os movimentos direccionais continuam a sua trajectória sem se moverem, potencialmente para sempre (daí o factor eterno, algo possível no cinema contudo inconcebível na vida real). A seguir, a realidade bi-dimesional do ecrã é contestada. Será que as coisas agora aparecem em profundidade? Planas, não são. Será que existe a 2 ½ D? A mulher continua a andar, passa a ventilação e ri-se.