Filme da ascensão crítica de Kelly Reichardt, “Old Joy” interrompe um hiato de mais de uma década desde “River of Grass”, o seu primeiro filme (entre os dois, Kelly realizou várias curtas-metragens). “Old Joy” assume-se como uma primeira abordagem ao estilo da realizadora, optando por narrativas minimalistas que encontram significado nos gestos quotidianos. O filme é também uma primeira colaboração entre Reichardt e o escritor Jon Raymond, do qual se adapta o conto homónimo (e publicado na coleção “Livability”). A narrativa desenvolve-se à volta de dois amigos: Kurt (interpretado por Will Oldham, também conhecido como Bonnie 'Prince' Billy) e Mark, que se encontram vários anos após se terem afastado. Kurt telefona a Mark com uma ideia: viajarem até uma estância termal no meio da floresta. Os dois estão em momentos diferentes da vida: Mark está casado e a sua mulher espera um filho; Kurt é um viajante sem destino, sempre fazendo coisas diferentes e nunca assentando. O encontro entre ambos assume, neste sentido, proporções melancólicas: apesar de ainda nutrirem uma amizade mútua, já não partilham interesses. Esse afastamento é acentuado numa cena, à noite, em que, depois de beberem bastante, Kurt confidencia ao amigo a sua admiração por aquilo que este construiu. O filme desenvolve-se apenas a partir de minúsculos momentos dramáticos, optando por seguir os processos naturais do quotidiano, como na longa cena em que os dois estão na estância termal, sozinhos, a usufruir da água quente. Também por isso, “Old Joy” apoia-se nos diálogos ternos e rudes dos dois e da alegria selvagem do cão que os acompanha. É também neste filme que Reichardt inicia um subtexto de comentário político, ao introduzir um debate entre partidários do Partido Democrata no rádio do carro de Mark (um debate que acentua um certo caos verbal sem ação política concreta). “Old Joy” foi um sucesso crítico, entrando para várias listas dos melhores filmes de 2006 e venceu prémios da Los Angeles Film Critics Association, e do Festival de Roterdão. Foi nomeado para os prémios Independent Spirit Awards e o produtor Neil Kopp venceu na categoria de Melhor Produtor (por “Old Joy” e “Paranoid Park”, de Gus Van Sant). Na banda sonora do filme ouve-se, com insistência, a música dos Yo La Tengo. “Old Joy” foi também um surpreendente sucesso de público.