Primeiro filme da cineasta americana, “River of Grass” demonstra ser um projeto de aprendizagem. Dialogando com o road movie (vêem-se ecos dos filmes da Nova Hollywood dos anos 70), a narrativa centra-se num improvável par de protagonistas: Cozy e Lee. Ambos têm vidas particularmente vazias. São losers, sem objetivo de vida: Cozy cuida dos seus filhos (de forma atabalhoada) e Lee ainda vive em casa da mãe. Um acontecimento improvável baralha a história: o pai de Cozy - detetive e baterista de jazz nas horas vagas - perde a sua arma, que é descoberta por Lee. Numa noite de diversão, Lee e Cozy (que deixa os filhos entregues a si próprios) acabam numa piscina alheia a brincar com essa arma. Subitamente, disparam um tiro na direção do dono da casa, que os surpreende. Julgando ter morto o homem, os dois iniciam uma fuga. Lee e Cozy parecem ter, de repente, um real objetivo de vida. No entanto, essa fuga pela estrada só revela uma frustração das expectativas: para além de parecerem andar em círculos, eles nunca desenvolvem um envolvimento amoroso. Como cúmulo, mais tarde fazem uma descoberta insólita: o seu ato radical não foi afinal tão consequente como os dois achavam. O filme evita, a todo o momento, uma ligação emocional entre o espectador e as personagens. É uma narrativa que os afasta, precisamente, para jogar contra o próprio género do road movie. Sem dúvida de que a ligação à tradição dos anos 70 está presente mas subvertida por um situacionismo dos anos 90. As personagens não se transformam, são apenas anti-heróis humanos, demasiado humanos. Rodado ao largo da zona de Evergaldes (literalmente, uma zona pantanosa; aliás, “River of Grass” é o nome índio para Everglades) do estado da Flórida, o filme foi um sucesso crítico, com seleções para o Festival de Sundance e para o Festival de Berlim, assim como para vários prémios dos Independent Spirit Awards.