O que é uma festa de pijamas? Talvez um registo infantojuvenil de uma certa ilusão de liberdade noturna. Uma festa sob vigilância. No entanto, esta festa de pijamas é tudo menos inocente: através de um dispositivo formal, David Pantaleón faz uma sátira à história da política espanhola dos últimos 40 anos e as suas contradições económicas e sociais. Essa sátira disfarça-se de uma festa, mas aqui os adultos presentes são políticos e dirigentes de altas instituições (entre muitos outros, Angela Merkel, Mario Draghi, José María Aznar ou Cristina de Borbón) que dançam e vivem em espaços degradados de um prédio esquecido. As situações são quase todas corriqueiras: beber shots, um casal despido num colchão ou tomar café à mesa da cozinha. No entanto, tudo é desencantado porque, aqui, os pijamas são o símbolo do despojamento forçado da economia espanhola. Através de máscaras na cara dos atores, esses políticos e dirigentes voltam a regressar: eles são uma pálida imagem deles mesmos, uma ridícula presença no plano, sempre estático, que nos obriga a olhar detalhadamente como se fosse um quadro. São precisamente quadros emouldurados que terminam este filme: desenhos que retratam ícones da arquitetura espanhola, violentados por uma mancha vermelha e pelo som estridente de uma explosão. A sociedade espanhola é mesmo uma ilusão de si mesma e das suas mentiras. Este é o primeiro trabalho de David Pantaleón em Vila do Conde, um realizador já com várias curtas na sua filmografia. (DR)