Nos trabalhos de Mike Hoolboom, a relação entre as imagens e o texto (a eterna voz off) é sempre da ordem do poético. Aliás, a utilização das imagens é feita de forma livre: a sua montagem segue uma lógica de associação de ideias, combinando material captado pelo cineasta com material proveniente de muitas outras fontes. A liberdade destes filmes torna-os especiais, porque subvertem a lógica narrativa do cinema, concentrando-se na exploração de imagens e conceitos que vêm do movimento que é gerado pela própria montagem. No caso de “We Make Couples”, o trabalho de imagem e do texto inspiram-se no modelo monogâmico das sociedades ocidentais, para ligar esse modelo ao capitalismo, propondo uma revolta ou resistência do “casal” contra esses modelos. Mas, como não podia deixar de ser, essa relação de resistência passa também pelo cinema, ou antes, pelo cinema “amador”, feito pelas pessoas comuns fora da máquina industrial. Para Hoolboom, o cinema é vida. Nesta mistura de registo, o filme até tem participações especiais dos protestantes do movimento Occupy e das Pussy Riot. O cineasta canadiano é uma das presenças mais frequentes em Vila do Conde, tendo sido mesmo motivo de uma retrospetiva em 2003. Hoolboom foi também o autor do texto da curta-metragem “Beacon”, que os realizadores Christoph Girardet e Matthias Müller fizeram para celebrar o décimo aniversário do festival; e participou com um texto sobre festivais, cinema e a vida no livro que assinalada as duas décadas do Curtas. (DR)