Uma combinação inusitada entre imagens de arquivo da máquina de guerra americana e a banda sonora de anúncios televisivos, “A Great Way of Life” propõem-nos uma viagem no tempo, à década de 60, e no espaço, transpondo a realidade do quotidiano para onde, afinal, tudo estava então em jogo: o Vietname. Esta articulação entre elementos aparentemente dissociados resulta numa reflexão sobre os mecanismos poder, ora os da imposição de hábitos de consumo de forma subliminar, granjeando adeptos para a sustentação do sistema económico, ora os do poder das armas, que só se tornaria possível com um modelo de vida cegamente aceite. As imagens são o testemunho possível, tintado a vermelho, de uma realidade muito mais crua do que a banda sonora nos quer fazer acreditar. É nesse desfasamento de discursos que reside a questão levantada por William E. Jones – um realizador que por várias vezes teve os seus filmes selecionados para a competição experimental do Curtas – e que pode ser remetida para a atualidade como exemplo da relação intrínseca entre a alienação provocada pelos grandes meios de comunicação social, como a televisão, a sustentação económica da sociedade de consumo e a perpetuação da intervenção bélica norte-americana um pouco por todo o mundo. É, afinal, um tipo de terror facilmente observável, embora sob as mais diversas formas e roupagens, também nos dias de hoje. (MM)