A sala de cinema, uma caixa negra perfeitamente obscurecida onde um público confortavelmente sentado assiste a projeções, pode ser utilizada como um dispositivo para outro tipo de experimentações cinemáticas. Rainer Kohlberger utiliza-a na sua busca incessante pelo ponto zero, pelo vazio ou abstração absoluta e pelo potencial das relações entre a experiência física e metafísica, entre os mecanismos da perceção e os diferentes estados de consciência. “Not even nothing can be free of ghosts” é um título sobejamente revelador das suas intenções, já que nos remete para os instantes, décimos de segundo talvez, em que os nossos sentidos são baralhados e passam a ver fantasmas nos intervalos das imagens que são, afinal, apenas luz modelada pelas superfícies perfeitamente geométricas geradas por computador. É impossível ficar indiferente a esta experiência intensa de som e luz mesmo que dela não se retire outro conteúdo senão o da vaticinação da morte do cinema, tal como a da morte da arte o foi por várias vezes, desde as vanguardas artísticas das primeiras décadas do século vinte, e o que não fez mais do que a fazer renascer. (MM)