Podemos falar sobre a nossa vida a partir de determinados objetos? Artista visual multifacetada (cinema, vídeo, fotografia), Salla Tykkä – cuja obra tem sido frequentemente exibida no Curtas, tendo mesmo sido uma das autoras In Focus em 2009 – ensaia, como o título indica, a retrospetiva de uma mulher tendo como referente cronológico o material fotográfico que esta foi adquirindo, pela sua voz se ouvindo a descrição das características, funcionalidades e outras particularidades e sendo nas dúvidas que tem sobre determinados aspetos que reside uma das dimensões mais interessantes do filme, a do esquecimento e da fragilidade da memória (“foi mesmo assim?”). O registo não é biográfico no sentido convencional do termo, pelo que a narração em off diz mais sobre o material do que sobre a vida pessoal da mulher, se bem que os objetos que estimamos possam, por vezes, revelar muito sobre nós. E depois, claro, há a imagem, não apenas a da mulher a manejar o equipamento mas, sobretudo, aquela que é filmada em diferentes momentos e locais (Patagónia e Terra do Fogo), quase sempre em registo paisagístico, a espaços poético, e cuja acumulação vai, bem assim, construindo toda uma outra paisagem, “memorial” (e neste sentido sim, biográfica), tal e qual as imagens mais ou menos nítidas (o problema da fidelidade da memória, novamente) que conservamos dos locais por que passámos na vida. (FN)