Manhã. Uma família acorda e prepara-se para sair de casa. É uma família de classe média: smartphones, computadores portáteis, uma casa confortável. Neste lento acordar, mostra-se a banalidade de um dia-a-dia: crianças a tomar banho, o pequeno-almoço, brincadeiras, bebés a chorar. O pai vê um mapa no computador, malas gigantes voam pelas escadas abaixo. Tudo indica que uma família está prestes a entrar em férias. Fotografado como uma ficção clássica, “Home” começa desta forma banal, levando o espectador a desconfiar: o que há de errado nesta família normal? A tentação para despoletar um melodrama é notória, mas a narrativa leva uma mudança brusca quando, de repente, em vez de umas férias, pais e crianças são fechados – de livre vontade – em malas de automóveis. Começa uma nova saga para esta família, numa sátira bastante negra sobre as viagens extremadas e perigosas dos refugiados que chegam à Europa. Em “Home”, tudo é colocado ao contrário: a família “perfeita” da classe média branca, com filhos, é aquela que é obrigada a sair de sua casa para procurar um futuro melhor. No fundo, o que resta são mesmo os laços que aqueles quatro seres humanos ainda mantém, mesmo depois de toda a indigência da viagem. Com algumas curtas-metragens no seu currículo, esta é a primeira presença da Daniel Mulloy no Curtas Vila do Conde, num registo de realismo britânico que é um autêntico murro no estômago. (DR)