Com apenas 500 dólares no bolso e enquanto consolidava o argumento de “Martha Marcy May Marlene”, Durkin filmou esta curta aplaudida em Sundance e premiada em Cannes 2010, a qual é, a bem dizer, toda uma introdução à sua primeira longa, como que deixando as “pistas” para o que viria. Em ambas, o objeto central da atenção do americano é uma seita que vive numa comuna e o tipo de relações e efeitos que se estabelecem sobre os seus membros, outra forma de perscrutar um complexo país chamado América. De alguma forma, é como se a curta terminasse onde a longa se inicia, como se nos deixasse “à porta” desta última, literalmente: o filme termina com a personagem interpretada por Brady Corbet (o recruta de novos membros em ambos os filmes) a deixar a namorada Mary (a insistência no “M”) na sua “nova casa”. Na curta, trata-se da iniciação à seita; na longa, as consequências da estadia e a fuga. Com poucos recursos, Durkin consegue filmar com bastante sofisticação (alternando os planos fixos e as panorâmicas com uma câmara à mão cuja mobilidade ao estilo home video insinua a atmosfera de thriller que se confirma depois na longa) e o excelente tratamento de som contribui para a sensação de something’s wrong que desde o início se pressente (o telemóvel que desaparece, a indiferença do rapaz perante esse facto…). Também à semelhança da longa, há, logo aqui, o interesse pela paisagem, filmicamente mas também programaticamente falando, na medida em que, filmando a ruralidade, Durkin vai de encontro ao coração da América tradicionalista e conservadora para questionar todo um país e a sua mitologia, de alguma forma acabando por confundir o espectador ao concentrar no mesmo espaço geográfico e mitológico (a tal ruralidade) a “velha América” e as seitas com filosofias de vida aparentemente opostas (o anti-materialismo, a autogestão, o amor livre). (FN)