Os posters na parede, os adereços de maquilhagem espalhados e as roupas desarrumadas não enganam: estamos no quarto de uma adolescente. Se as conversas sobre rapazes são normais, já o uso de drogas aponta para o embate iminente entre a adolescência e a perda da inocência, que é o que interessa a Antonio Campos nesta história. Quando um ecrã de computador revela que a protagonista colocou em leilão online a sua virgindade, a proposta do filme fica clara, tal como a frivolidade com que a rapariga trata o assunto, discutindo com a amiga como irá gastar o dinheiro em compras. Essa mesma irresponsabilidade, e consequente desapego emocional, serão postos à prova quando, ao encontrar-se com o homem que ganhou a licitação num quarto de hotel, é confrontada com o seu plano. Ao mostrar o cinismo da rapariga, Antonio Campos critica este consumismo sem limites e materialismo extremo. Porém, à medida que a adolescente se expõe, e à sua solidão, é impossível não sentir empatia perante tamanha fragilidade. O filme começa fascinado pelo comportamento egocêntrico e amoral desta personagem, mas ao aproximar-se da sua vulnerabilidade, encontra algo de humano na sua alienação. (JA)