Decorrido do futurismo italiano e do cubismo francês, o construtivismo surge na União Soviética, por volta de 1913, com Vladimir Tatlin na frente de um movimento que, através da arte, celebra a máquina, a tecnologia e o utilitarismo, procurando “construir arte”. Igualmente radical, Malevich propõe um “mundo da não-representação” e abre caminho para a morte da figura. Em 1927, expõe 70 obras suas em Berlim e o seu ensaio “O suprematismo ou o mundo sem objeto” é publicado pela Bauhaus. Tatlin é igualmente apreciado entre os estudantes alemães e, em 1920, Grosz e Heartfield são fotografados a segurar uma placa onde se lê “A arte está Morta - Vida Longa à Máquina de Tatlin”. Esta é a Alemanha de Walther Ruttmann, estudante de arquitetura, pintura e design, disciplinas a que uma precursora Bauhaus aplica os princípios modernistas. O abandono progressivo, por Ruttmann, da abstração da sua série “Lichtspiel Opus” para trabalhar a partir da realidade da paisagem urbana em “Berlim: Sinfonia de uma grande cidade” argumenta como, independentemente da ideologia que lhe subjaz, a ditadura estende-se à manipulação da arte e da cultura para fins propagandísticos. Distintamente, a ascensão dos regimes fascistas na Alemanha e na Itália e comunista na URSS, significou a repressão das vanguardas e a exaltação de um princípio de realismo que procura, não a interpretação subjetiva da obra artística pelo espectador, mas a sua compreensão imediata pelas massas. Na sua “inconveniente” abstração, este “Lichtspiel Opus III” dá seguimento ao estudo prévio da série de Ruttmann das relações entre formas, cores, geometrias e figuras. (SDM)