Filme fundador do cinema experimental relacionado com a utilização de ‘found footage’, “A Movie” é um compêndio da arte da montagem. O trabalho de Bruce Conner sempre se concentrou na mesa de edição e no trabalho artesanal com a película, quer seja a partir de material encontrado, quer seja a partir de material filmado pelo próprio. Aliás, o Curtas Vila do Conde dedicou mesmo uma sessão a Bruce Conner, em 2011, mostrando como o seu trabalho foi percursor do vídeo musical em diversos filmes como “Breakaway” ou “America is Waiting”. O caso de “A Movie” é bastante aguçado: num espaço de onze minutos, Conner combina material de diversas origens, desde filmes de Hollywood (sobretudo ‘westerns’), mulheres em poses sexuais, corridas de carros e outros desportos motorizado, a bomba atómica, até outros desastres humanos, incluindo corpos mortos de soldados em guerras ou pontes que caem. A utilização de material desconsiderado em novas apropriações foi uma revolução na forma como o cinema olhava para si próprio. Neste caso em específico, Conner parece querer mostrar como as imagens em movimento – ou, em especial, um certo tipo de cinema produzido à época – é sensacionalista ou tremendo no impacto causado pelas suas imagens. A repetição exaustiva da expressão “The End” ou o próprio título do filme remetem para uma ontologia do cinema e da sua espetacularidade. “A Movie”, como filme de montagem, aponta também para uma fricção dos elementos (os excertos são contrastados com excertos seguintes), reavivando os debates soviéticos sobre o carácter profundamente radical da montagem cinematográfica. Para iniciar a sessão arqueológica dos Ensaios Audiovisuais, vemos um filme essencial sobre o papel das imagens em movimento. (DR).