Uma das obsessões mais recorrentes de Mark Rappaport é aquela relacionada com o período clássico, as suas estrelas e os atores esquecidos. Neste ensaio, o realizador olha para Debra Paget, um exemplo paradigmático dos ‘contract players’ – atores em início de carreira, bastante atraentes, a quem os grandes estúdios ofereciam um contrato com a perspetiva de se poderem tornar ‘stars’. Estes atores iriam “competir” com as estrelas que envelheciam, podendo mesmo substituí-las. Muito poucos conseguiriam estabelecer-se no cinema e teriam que refugiar-se na televisão. A partir deste pressuposto, Rappaport inicia uma biografia de Debra Paget a partir dos filmes em que ela participou, desde a sua primeira aparição aos 14 anos. A história da sua carreira confunde-se com a história do período clássico de Hollywood e com as suas mudanças técnicas e temáticas. Como em outros dos seus filmes, o realizador introduz um elemento mais afetivo: comentários imaginados, ditos em primeira pessoa, pela própria Debra Paget. A atriz é utlizada numa plêiade de situações: como uma menina que casa com homens mais velhos, princesa exótica, rapariguinha da escola ou mulher atraente que canta e dança. O que o filme subentende é a necessária versatilidade de um ‘contract player’ e a sua total disponibilidade para as exigências dos estúdios. Exemplo disso mesmo foi a passagem para CinemaScope, uma mudança profunda para os atores: em vez de grandes planos, planos gerais que favoreciam a paisagem e o espaço que sobrava no enquadramento. Rappaport, apesar da carga pedagógica dos seus filmes, nunca deixa de fazer uma ligação à nostalgia do primeiro visionamento e da capacidade dos ‘guilty pleasures’ fazerem parte da memória pessoal do cinéfilo. É, aliás, com uma dança muito sensual que o filme termina, mostrando como Debra Paget fez parte do imaginário juvenil de algumas gerações. (DR)