Quando somos mais pequenos, tudo parece maior: não é só a escala das coisas, mas também a passagem do tempo. Os dias parecem iguais, intermináveis, e o Verão arrasta-se agradavelmente, ampliando os tempos de monotonia. Quando se tem de viajar com os pais para a aldeia, para longe dos amigos, como acontece com o jovem protagonista deste filme, a letargia transforma-se numa monomania, sobretudo quando os dias são mais longos. “Verão” é o retrato dessa passagem de tempo através do ponto de vista de um miúdo, entregue sozinho aos seus tempos mortos, à sua bola de futebol, à sua imaginação, num mundo sem adultos. É uma melancolia construída momento a momento, uma representação idílica de um verão onde não acontece nada, onde a solidão, o silêncio e a infância são os únicos companheiros. É por isso também um elogio ao marasmo despreocupado e uma felicidade frágil. No ponto em que o rapaz está mais afastado do que lhe é mais próximo, numa espécie de solstício do coração, o filme encontra refúgio ao seu lado, numa nostalgia pelo dia de ontem. (JA)