Numa abordagem quase de guerrilha, o Independent Cinema Office (ICO) e a Lux, com fundos do Arts Council de Inglaterra, produziu uma série de filmes de arte para serem incluídos antes de filmes comerciais comuns: The Cinema Programme. Entre os realizadores escolhidos estava Gabriel Abrantes que, assim, não enjeitou a oportunidade de realizar uma curta de inegável interesse, um filme de arte, sobre uma escultura muito peculiar e sobre um artista escultor: Constantin Brancusi. Abrantes desenvolve um enredo, em tom algo jocoso, que parte de uma suposta birra do próprio Brancusi em relação aos devaneios entusiasmados e irrequietos da sobrinha bisneta de Napoleão Bonaparte, sua modelo. O retrato da Princesa X, um busto, acabou limpo de muito do que poderia ser considerado supérfluo, na voragem da aventura da arte moderna. A alteração do paradigma das artes-plásticas é assim documentada, na voz do narrador – o próprio Abrantes – e pelo escopro do artista – como se fosse na primeira pessoa – que decidiu, pelas razões menos ortodoxas, empreender um longo trajeto entre a figuração e a abstração. O resultado não deixa qualquer sombra de dúvida: é uma princesa, não um dildo! Gabriel Abrantes desde cedo manifestou uma atitude iconoclasta, realizando filmes surpreendentes, que transpõem territórios, ora reservados ao cinema, ora às artes visuais. O Curtas tem apresentado algumas destas obras em vários contextos, passando obviamente pela competição, e convidando o realizador, até, para a participação no projeto Stereo, o que daria origem ao filme "Baby Back Costa Rica", uma produção da Curtas Metragens CRL realizada em colaboração como o músico Pedro Gomes em 2012. (MM)