O influente livro de teoria do cinema “Film Theory through the senses”, de Thomas Elsaesser e Malte Hagener, suscitou a realização de vários ensaios audiovisuais sobre cada capítulo. Este ensaio parte do capítulo 3, “The Face and the Mirror”, para estudar as teorias que interpretam o ecrã de cinema como um espelho onde os próprios espectadores se podem reconhecer, tomando o cinema de Ingmar Bergman como estudo de caso. O uso recorrente do grande plano parece confirmar, em Bergman, a importância do ecrã como reflexo das emoções humanas que transbordarão dos atores para o espectador do filme. No entanto, o também recorrente olhar direto para a câmara que caracteriza tantas cenas icónicas do realizador sueco vai confundir o espectador e desestabilizar a posição distante e segura a partir da qual normalmente vemos um filme. Concentrando-se em particular no exemplo de “Persona” (1966), este ensaio problematiza a “ontologia do ecrã” e ajuda a perceber o papel do grande plano e do olhar direto para a câmara como estratégias centrais não só do cinema de Bergman, mas também do próprio cinema moderno. (TB)