O último filme de Pedro Bastos – presente na Competição Nacional de 2013 com “Ao Lobo da Madragoa” – tateia, através do método “socrático”, a origem, o fundamento, enfim, a ontologia da imagem mediante um processo interrogativo no qual as questões colocadas em off, mais do que buscarem respostas ou soluções (ou não as buscando de todo), se consubstanciam em plataformas de compreensão possíveis que, em qualquer caso, sempre levam a novas interrogações e especulações, espécie de work in progress constante e infinito, em espiral, até à origem das origens. Nessa demanda em ritmo diarístico, são utilizados suportes diversos (com especial destaque para a utilização “plástica” da película) e sugeridos outros (o expressionismo pictórico latente na deformação da casa abandonada), assim se trilhando um percurso poético que, partindo da memória da infância (qual a primeiríssima imagem de que temos recordação?), se dirige “para trás” (e não “para a frente”) em direção ao ventre materno, não sem o seu quê de escatológico. Destaque, ainda, para o excelente tratamento de som, absolutamente fulcral (desde logo, por exemplo, na captação do “riscar” das paredes), a par da evocação mais literal em off (o bolor, a humidade, o mofo), para a construção do ambiente profundamente sensorial de todo o filme. (FN)