São apenas quatro os edifícios desta cidade, separados por uma autoestrada sem início nem fim, todos sustentados por um pedregulho levitando sem rumo no espaço sideral: um hotel cujos hóspedes são sardinhas, um restaurante sem clientes servido por roedores, um call-center cujos operadores são macacos e um supermercado vazio abastecido por um canino repositor de produtos. Através de uma sucessão de planos que vão de canções a performances de sapateado e coreografias Berkeleyanas, de cenas cómicas a outras sufocantes, esta magnífica animação não se fica pelo show off da técnica, mas caminha, no conjunto, para algo terrível, profundo, comovente e melancólico onde a música funciona como uma mordaz zombaria redentora da letargia e tristeza existencial dos personagens. A cineasta sueca Niki Lindroth von Bahr, estreante em Vila do Conde, volta a explorar as relações/emoções humanas através do filtro da fábula também usada nas suas quatro curtas anteriores, mas aqui traça um atalho, de um novo surrealismo, entre Roy Andersson e David Lynch. (SR)