A morte parece gostar delas. E a TV gosta delas mortas e nuas, se possível! O exercício de pseudonecrofilia, mal disfarçado por quilos de maquilhagem que não escondem um lábio intumescido, ou pelo sangue às postas que até destaca um par de mamilos em ereção banalizou-se, e a Kristy Guevara-Flanagan ("Wonder Women! The Untold Story of American Superheroines", 2012) bastar-lhe-ia uma noite de zapping para encontrar, para a curta "What Happened to Her", umas dezenas de sucessoras de Laura Palmer sem sacos que lhes escondam as curvas. Corpos sensualmente exibidos perante sucedâneos mais ou menos esbeltos – mas sempre impecavelmente vestidos – de um Dale Cooper meditabundo que, presos, eles, ao papel de investigadores, deixam para nós, espectadores, a liberdade, apenas aparentemente transgressora – que tudo não passa de uma série! – do prazer. Mas agora imaginemos que uma delas "abre os olhos" e fala. Que, distraindo o nosso olhar perscrutante, há uma atriz, mulher, expondo, em viva voz, reflexões que, sob aquela lividez post-mortem, alimentam a dúvida sobre o seu verdadeiro papel ali e, em última instância, sobre o nosso papel aqui, deste lado do ecrã. O que nos acontecerá, a seguir? (AC)