Esta é, provavelmente, a ocasião em que Hong Sang-soo mais próximo esteve de pôr os pés em Vila do Conde, com isto já se dizendo muito do magnífico filme de Toru Takano. Excetuando o país de origem (Takano japonês, Sang-soo sul coreano), pouco mais afasta o filme de Takano do mestre coreano, sem que, porém, o primeiro caia jamais nalgum tipo de copismo, antes sabendo trabalhar, delicada e inventivamente, com o material à sua disposição, do (aparentemente) pouco fazendo muito, tal e qual Sang-soo. É assim na arquitetura da mise en scène, na composição das personagens (a melancolia simultaneamente desastrada e amistosa do protagonista), na economia dos cenários e na primariedade das cores, enfim, no humor sempre tintado por uma gravidade tristonha (e pelos efeitos do álcool, quase uma "personagem" em si no cinema de Sang-soo). Em particular, o filme partilha o tom veraneante de "Noutro País", filme de 2012 do coreano, se bem que, neste capítulo, o caráter literário, contista, bem como a juventude e o clima de romance em plenas "férias grandes" tragam também à memória um filme como "Conto de Verão" (1997) de Éric Rohmer, nem por acaso uma das grandes referências autorais do próprio Sang-soo. Um dos grandes filmes a não perder nesta edição. (FN)