Uma mulher chega a casa e adormece. Durante o sono, vê-se a regressar a casa, torturada pela solidão e a frustração e impulsivamente a suicidar-se. A história desdobra-se depois num duplo clímax, com o imaginado e o sonhado a tornarem-se reais. Através de uma montagem inventiva, recorrendo a diferentes ângulos de câmara e à câmara lenta, misturando pontos de vista subjetivos e objetivos, repetindo exaustivamente imagens de forte poder simbólico – como uma flor no meio de uma longa estrada, uma chave a cair, uma porta aberta, uma faca espetada num pão, uma estranha figura da morte com um espelho no lugar do rosto ou um telefone fora do descanso –, Maya Deren dá-nos a visão de um mundo onde é cada vez mais difícil distinguir a realidade da fantasia e, com o seu enredo circular, surrealista e experimental, mostra-nos como uma experiência emocionalmente extrema pode ser despoletada subconscientemente a partir de um acontecimento aparentemente banal e fortuito. (Adolfo Luxúria Canibal)