Pelos 25 anos das Curtas, revisita-se a obra que Clémenti filma aos 25. À 1ª versão deste manifesto pelas imagens libertas, chamou-se "Psychedelic" (1967) e só em 1975, cumprido numa versão de 44 minutos, se chegou ao título "Visa de Censure NºX", musicado pela banda progressiva de rock’n’roll cósmico, Clearlight Symphony. O caleidoscópio que aqui se abre lança-se contra a história das proibições no cinema. A celebração tem pressa, é mística e é a cores. Improvisa-se o transe entre a droga e o sexo, a nudez e as origens, o sagrado e o profano. Eis o psicadelismo feito cinema, embriaguez de sobreimposições sucessivas. Eis o underground puro, essa imagem freneticamente radical, alheia aos códigos, agitada por mãos que filmam a vida como quem agarra os seus ritmos. Por todo o lado, vestígios da pulsante liberdade da contracultura que antecipa o Maio de 68, espírito que a jovem câmara de Clémenti testemunharia in loco. A montagem é o compasso acelerado da alucinação. Esta magia multitonal pode tudo e revoluciona: os olhos estão abertos para sonhos com todas as legendas possíveis. Se de imediato recordamos o incontornável Clémenti-ator, face diabólica de Cristo, emblema de Buñuel, Pasolini, César Monteiro, Visconti ou Garrel, ainda há infinitas viagens por marcar com as magnas iluminações deste Clémenti-cineasta, torrencial animal das esferas. (Sabrina D. Marques)