Vacancy", a geometria descritiva do vazio. Quando vais a uma cidade, continuas a ser o mesmo? O que te dá a cidade dela? O que queres preservar? Imagina uma cidade construída do nada. Importámos habitantes, animais, criámos ordem, tentamos depois o progresso. A cidade nasce do vazio e estranhamente é o vazio que tememos. Quando utilizamos a palavra "caos" para definir o muito e o excesso, estamos muitas vezes a temer o caos do nada. É por isso que tentamos preencher o vazio. A cidade foi criada para o homem se perder nela, para não se ouvir. Não há reflexos devolvidos no meio do caos. "Vacancy", de Mathias Müller, é sobre a cidade de Brasília, construída em 1960. O realizador e a capital federal do Brasil têm a mesma idade. Ambos se construíram. Brasília, a última das utopias, sendo que cada um de nós encerra em si essa possibilidade: cada homem/mulher aloja uma utopia. Um filme que 20 anos depois mantém uma aura de mistério pela narração, pela manipulação das imagens (de arquivo) e da cor, pelos planos geométricos de uma cidade construída a régua e esquadro. Em 1998, ano em que Müller fez este filme, Lisboa apresentava a Expo. Uma cidade construída dentro de outra cidade. Temos a capacidade de criar lugares, mas podemos mesmo dar-lhes identidade? (Inês Meneses)