L’Etoile de Mer" é um exemplo do potencial do cinema na época do mudo. Ao arrepio da lógica narrativa convencional, Man Ray cria uma história guiada por palavras e imagens onde a perceção é distorcida e conduzida pela lógica do sonho. Sugestões sexuais, encantamento, voyeurismo, associações de ideias, jogos de palavras, liberdade interpretativa… recursos que parecem interessar a Ray no desenrolar febril desta curta-metragem. A prática cinemática de Man Ray congrega diferentes tipos de representação dissociando a narração surreal da realidade fenomenal através do recurso a técnicas fotográficas in camera, disrupção temporal e espacial, e evidentes machadadas na ditadura da plausibilidade. Nesse mesmo ano um outro filme filho da corrente surrealista marcou a historia do cinema de vanguarda: "Le Chien Andalou". O Cinema já foi mais livre, senhoras e senhores! (Rui Poças)