Enquanto as ondas lembram o compasso da vida, um conjunto de beatas de cigarro anuncia um desaparecimento, umas quantas bolhas de ar deformam-se para desafiar a realidade, e surge, aos olhos de um menino, a figura de uma morsa que fuma. Uma alegoria sobre o luto, à luz das pequenas tensões de uma família moderna, que se desloca, num dia cinzento e ventoso, a uma praia do norte guardada pelas dunas, para devolver ao mar as cinzas de um avô bastante peculiar. Com uma extraordinária mestria, uma encenação e jogo de personagens irrepreensível – entram em cena sete personagens de gradação distinta, a autora assina o seu primeiro filme (em contexto profissional), que culmina num momento catártico e de recuperação do sagrado. Lucrèce Andreae, uma jovem cineasta cujo percurso desde logo se demarcou nas artes da animação, tendo frequentado a escola Les Gobelins e de seguida a Poudrière, surpreende-nos pela sua maturidade e pelo domínio e conjugação da técnica com a narrativa, deixando-nos muito expectantes quanto aos seus próximos filmes. (VV)