Em Paris, há vários anos, um homem aparentemente vulgar frequentara, durante muito tempo, um lugar estranho, uma espécie de clube secreto onde lhe era permitido observar pessoas – gente vulgar, como ele – nas suas vidas quotidianas, rotineiras e desinteressantes. Um produtor de cinema, intuindo que a experiência daquele homem poderia materializar-se em filme, aborda-o para uma conversa. Ora, é essa conversa que domina o filme. Um diálogo, filmado em campo/contracampo, onde se discute um lugar e uma experiência hipotéticos. O filme, assumidamente convencional, sobrepõe-se à convenção de uma forma refrescante: pela elegância, pela qualidade do texto, pelo modo como o mesmo é filmado. O espectador é convidado a imaginar a experiência, preso a cada linha do diálogo. Para o sucesso do filme contribui o excelente trabalho dos dois atores, Jacques Nolot e Sharif Andoura, em perfeita sintonia nas revelações, hesitações, silêncios e sorrisos cúmplices – irrepreensíveis, como se fossem habitados pelas palavras. E porque filmar um texto, hoje em dia, pode ser uma opção arriscada, a obra de Cedric Venail tem ainda mais mérito. É que, em "À Discretion", não se dá pelo tempo passar. (TL)