O cinema espanhol sempre procurou construir um imaginário da crise económica violenta que se abateu nos países do sul da Europa nos anos recentes. "Los Desheredados" é um exemplo delicado e ternurento desse choque cultural: Laura Ferrés acompanha o seu pai, Pere Ferrés, no percurso terminal do seu negócio familiar de autocarros de turismo. Este final não é só economicamente desastroso: há uma espécie de vergonha subtil em Pere Ferrés, nos seus cinquenta e três anos de idade, na frustração de uma vida com altos e baixos e que tem, neste filme, uma conclusão triste. Para Ferrés, já só restam as viagens noturnas com rapazes bêbados que voltam de festas e que o humilham. No entanto, há uma espécie de dignidade final, que se sustém numa linha muito ténue e que faz Ferrés aguentar o declínio do negócio e da sua forma de vida. Em som de fundo, a televisão ou a rádio dão os sinais mais mediáticos desta vertigem económica: os bancos são salvos, as pessoas não. "Los Desheredados" é a segunda curta-metragem de Laura Ferrés, que se estreia, assim, no Curtas Vila do Conde. (DR)