Na cultura ocidental, a transição da adolescência para a vida adulta é pontuada por rituais discretos e naturalizados. É, por exemplo, expectável que a dada altura se escolha uma área de estudos com vista a, num futuro próximo, se cumprir o desígnio de desempenhar uma profissão que nos permita ser elementos socialmente válidos, reconhecidos e funcionais. Logo, o questionamento frontal das "regras do jogo" social é encarado com estranheza. O filme do brasileiro Gabriel Martins denuncia a pressão social silenciosa que é exercida sobre os indivíduos, mais concretamente, sobre os adolescentes. Bia, interpretada pela jovem rapper Clara Lima, recusa-se a ceder mansamente aos ditames impostos por instituições como a escola ou a família. Ela garante não querer fazer "nada": e os que a rodeiam, pasmados, não sabem como lidar com a sua convicção. A afronta e o espírito contestatário do rap são qualidades que "a rapper transformada em atriz" transporta para a sua estreia diante da câmara. "Nada" (Nothing) é um alerta para a importância do respeito pela individualidade e para a necessidade de se garantir o espaço necessário para a autodescoberta, numa sociedade cada vez mais frenética e apressada. (TL)