A estreia da australiana Luci Shroder no Curtas chega com estrondo: o filme, espécie de "one day in the life of", vive de um realismo inatacável, sem concessões, fazendo jus à máxima (discutível, claro) de que só é possível filmar o real com a mesma e exata verdade que ele encerra, ainda que que isso comporte uma incómoda crueza. O modo acelerado, ziguezagueante e ruidoso com que o filme se inicia, com a montagem brusca a remeter para a ordem estética dos vídeos musicais, lança o tom certo para a caracterização da sua geração, uma adolescente dos subúrbios americanos em roda (ou queda) livre com uma missão vital (justamente) para cumprir em 24 horas. E se esta "rebel with a cause" impressiona tanto pela rudeza, isso é obviamente mérito da atriz que lhe dá corpo, terrivelmente convincente na personificação da revolta e desleixo de todos os jovens de todos os tempos (ou, pelo menos, daqueles com vida e histórias dentro de si). O inteligente gag final, mais do que imprimir uma nota humorística (negra, claro), de juntar o "tragi" à comédia, é, de outro ângulo, o filme a brincar com si próprio e com a sua seriedade, simultaneamente permitindo ao espectador, enfim, distender os músculos. (FN)