À terceira longa-metragem, F. J. Ossang propõe uma road trip ambientado nas paisagens desérticas do Chile, entre a estética da ficção científica e os códigos de género do film noir (aqui a cores, o seu primeiro trabalho a cores, mas sempre sombrias, noturnas e claustrofóbicas). É, por isso, um filme mais "clássico" do que os anteriores, que tende para a domesticação dos impulsos (visuais e sonoros) mais violentos que caracteriza a generalidade da obra de Ossang. O delírio e a paranoia são o mote de uma vertigem permanente, que parte do poema de Georg Trakl (1887-1914), um expoente máximo do expressionismo literário austríaco precocemente falecido aos 27 anos, e prolonga uma sensação de desenraizamento ou desterritorialização. Entre o elenco, destaca-se o rosto icónico do português Pedro Hestnes que, depois de marcar presença secundária num filme anterior (Le trésor des îles chiennes), assume um papel de protagonista que encaixa perfeitamente no sentimento de vazio pretendido para a narrativa. (PC)