Kelly Reichardt prossegue o seu trabalho quase sociológico de reflexão sobre a América profunda, rural e esquecida, simbolicamente o velho e mítico Oeste, o território mais recorrente na sua obra. É esta América desencantada e abandonada, vítima da globalização e especulação financeira, que parece presa num dilema existencial. O conflito entre a permanência e a mudança é latente. Posicionada no meio independente do cinema norte-americano, Reichardt trabalha também com as convenções de género. "Certain Women" segue esse caminho: numa estrutura aparentemente melodramática (há todo o tipo de dramas pessoais e familiares), o confronto é evitado e não se consuma nenhum momento climático ou catártico previsível, evitandos os estereótipos e convenções mais recorrentes. Aparentemente, a acção é sobre nada, sobre acontecimentos rotineiros das pessoas, sobre o seu quotidiano aparentemente monótono e enfadonho. Parece que nada acontece a essas personagens, presas num quotidiano que perdurará inalterado depois dele terminar. (PC)