Em Nova Iorque, pelo menos na sua mitologia cinemática, em cada pessoa existe uma história por contar. Quando encontramos Mariana no início do filme, a deambular pelas ruas da cidade, a roubar as gorjetas deixadas em mesas de cafés, agarrada às suas poucas posses, esta jovem argentina parece deslocar-se sem rumo definido, anestesiada até pela metrópole. É apenas quando encontra Renzo, um estudante argentino que lhe devolve o seu passaporte perdido, que esta encontra alguém interessado em ouvi-la. Os dois parecem compartilhar um certo marasmo existencial, afligidos por um subdesenvolvimento emocional, presente nas suas interações com as pessoas à sua volta, que os deixam isolados em relação ao mundo, mas que os aproximam. Entre diversos estratagemas de sobrevivência numa cidade desconhecida, surge assim uma aliança improvável. O filme de Agostina Galvéz e Francisco Lezama, estreantes no Curtas Vila do Conde, é pontuado por uma linguagem fria e desafeiçoada, emulativa do estado psicológico das personagens, que resulta por vezes num humor peculiar - como quando Mariana desmaia por transtorno - mas que nos aproxima da sua procura de felicidade, mesmo que efémera. (JA)