O olhar é ao mesmo tempo familiar e estranho: uma floresta verdejante, uma casa abandonada, um museu zoológico. Aos poucos entramos neste universo primitivo com a intuição dos saberes contemporâneos. Há, assim, uma quebra temporal que "Longe da Amazónia" pretende acentuar. Esse lado anacrónico é marcado pela voz-off que utiliza textos da "Viagem Filosófica" de Alexandre Rodrigues Ferreira, que regista o seu percurso pela selva amazónica e pelos vestígios da tribo Jurupixuna, no século XVIII. Estes são ditos de um ocidental surpreendido pela espetacularidade de um mundo completamente diferente do seu. O nosso olhar, no entanto, é comprometido: sabemos que a ingenuidade de Alexandre Rodrigues Ferreira é também aquela que esconde o olhar do colonizador. Ainda assim, e evocando um "elogio fúnebre" desse explorador, ouvimos a melancolia com ele viveu os últimos dias da sua vida, esquecido por um regime a que serviu, na melhor das intenções. Este é o segundo filme de Francisco Carvalho, numa estreia absoluta no Curtas Vila do Conde. (DR)