Big Sun, o brilhante e deslumbrante quarto álbum de Christophe Chassol, é a joia da coroa da sua trilogia de ultra-bandas-sonoras (um método que ele desenvolveu para harmonizar e criar sinfonias para a vida real, o “aqui e agora”), que começou na Nova Orleães de língua crioula (“Nola Chérie”, 2011) e continuou o seu trajeto através da Índia (“Indiamore”, 2013). Em março de 2014, Christophe Chassol partiu para a Martinica, de onde os pais eram naturais, as Índias Ocidentais que eram o símbolo de tudo o que ele desejava expressar, do puramente pessoal ao perfeitamente panótico. Juntamente com Marie-France Barrier, produtora de misturas de som, e o engenheiro de som Johann Levasseur, o trio filmou e gravou uma miríade de encontros extraordinários, cenas do quotidiano, o carnaval... um documentário altamente sugestivo que viria a estar na base de Big Sun. De volta a França, compôs, montou, ensaiou e criou 27 faixas de uma odisseia caribenha de 70 minutos. Big Sun é um cruzamento de cantos de pássaro e do assobio de Pipo Gertrude, da poesia de Joby Bernabés e de um encontro com uma montanhesa, o rap de Sissido e Samak, a flauta de Mario Masse, o carnaval de Fort de France, o eco dos búzios, a música do oceano e o rebuliço de um jogo de dominó. E magníficas peças de música como La Route de la Trace ou Reich & Darwin, que surgem repentinamente numa curva do caminho e nos cortam a respiração. Depois de X-pianos, Indiamore e Ultrascores, Chassol não pára, revolucionando a linguagem harmónica que o faz destacar-se instantaneamente da multidão, reformulando faixas compostas em torno de três acordes sem variação, e dando o seu toque sofisticado a melodias imutáveis. Qual efeito ótico, a voz, embora nunca deflita, parece transformar-se, desdobrando-se em variações excepcionalmente rebuscadas de acordes e combinações de sons.O mesmo também se aplica aos ritmos. Chassol namorisca com a métrica e os compassos com igual fluidez. Nada é padronizado, e, no entanto, tudo parece normal, é necessária uma genialidade técnica natural para alcançar um resultado destes, e uma maior elegância ainda para ocultar a complexidade. Sem metrónomo nem sequenciador, tudo é tocado à medida que as palavras, os sons, os cantos dos pássaros e a própria música de Chassol se vão revelando. Lawrence Clais, baterista nos discos anteriores, faz parte da aventura e, pelo caminho, vão-se juntando Mienniel na flauta, Alice Lewis nas vozes e Bertrand Burgalat no baixo. Chassol toca, com uma sensibilidade e jeito naturais, composições que estão longe de ser naturais. Frank Ocean não teve dúvidas quando convidou Chassol para trabalhar no seu disco. Tal como Laurie Anderson, Terry Riley e Gilles Peterson. A Martinica descrita em Big Sun destrói lugares-comuns, códigos e géneros musicais. É um cruzamento entre o Capitão Nemo e um Fender Rhodes... Chassol convida-nos a embarcar numa estranha viagem de descoberta, não obstante a sua admirável organização. O que ele vê através do seu radar, a forma como interpreta a realidade... Enfim, percebemos onde quer chegar e estamos definitivamente no mesmo comprimento de onda! Chassol é uma espécie de ilha mágica e misteriosa, tal como nós.