“Ele disse-me que via a música indiana como duas linhas horizontais. A primeira, normalmente tocada numa tambura, simboliza o baixo. É como um fluxo, um tom, um tronco. Uma raiz que define o ponto de apoio da harmonia. A segunda linha representa a melodia e as suas trajetórias sinuosas. Surgiria da primeira, atravessá-la-ia por cima e por baixo, e, como se fosse um íman, regressaria sempre a ela. Confessou-me que gostava de tocar os seus acordes favoritos nos intervalos que pareciam as montanhas das Índias americanas.”(excerto da introdução de “Indiamore”) Os primeiros encontros de Chassol com a música indiana datam da adolescência quando, graças a John McLaughlin e à sua banda Shakti, começou a ouvir ragas, estruturas rítmicas e instrumentos musicais indianos misturados com jazz. Depois vieram Ravi Shankar, Hariprasad Chaurasia e cânticos de devoção. Mais recentemente, os documentários de Louis Malle (“Phantom India”) e Johan van der Keuken (“The Eye Above The Well”) deixaram marcas nele e, depois de ter harmonizado Nova Orleães em “Nola Cherie”, a vontade de tentar harmonizar a vida, sons, temas, ruídos e trânsito do norte da Índia foi ganhando terreno. Em Calcutá e Varanasi, a mais antiga das cidades indianas, filmou tocadores de cítara, percussionistas, cantores, bailarinos, crianças, o Ganges, a cidade e o aparente caos do trânsito citadino. Indiamore distribui-se por quatro movimentos, uma suite harmónica num único tom com acordes pop reais e calorosos que aliam a música indiana modal, normalmente apoiada numa única linha contínua de baixo tocada numa tambura. Ao repetir estas imagens, ao tratar o som delas como música e ao harmonizar o diálogo dos atores com a suas obsessões harmónicas, consegue transformar a sua visão documental numa obra puramente musical.