Esta é a história impressionante de uma ligação inseparável, de uma relação de fidelidade inabalável e de uma sentimentalidade cúmplice entre um homem e a sua mota. Essa mota, batizada La Persistente, e essa relação criam naturalmente inveja a quem se cruza com os dois, especialmente quando se trata de um grupo de adolescentes irrequietos à procura de marcar o seu terreno. A partir do momento em que esse grupo sequestra a mota ao protagonista, este passa a ter como única missão a reunião com a sua companheira de viagem, a qualquer custo. Segue-se então uma aventura pouco convencional pelos caminhos incertos de um objeto surreal e sensorial, sobre o trilho do desejo e da possessão, reminiscente dos filmes de David Lynch mas perversamente original. Se a liberdade de viajar sem destino certo é interrompida momentaneamente e transformada em solidão, esta é resgatada pela ação do filme, que num ambiente misterioso, inquietante e violento até, toma rumos surpreendentes e impulsivos no cenário montanhoso e traiçoeiro dos Pirenéus franceses. Aqui, a redenção nunca está muito longe. (JA)