Que aventuras guarda o crepúsculo do equinócio? Duas mulheres navegam numa pequena lancha até um ilhéu, carregando consigo uma urna com cinzas. De quem? Não se saberá. No equinócio, quando o dia e a noite têm a mesma duração, o tempo baralha-se como se baralham a luz e a escuridão. É nesse lusco-fusco que Ivo M. Ferreira encontra a torsão e o momento de força desta sua mais recente curta-metragem. Agora retidas naquele lugar isolado, as duas mulheres aproximam-se de um jovem e de um pescador, faroleiros daquela praia, para se entregarem ao desconhecido. Quando amanhece, o vento sopra fortemente a areia nos corpos enrolados. Ivo M. Ferreira regressa assim ao formato da curta-metragem, depois de “Na Escama do Dragão”, em 2013, com uma história enigmática e dois amores de equinócio, carregada de misticismo: do renascimento associado ao equinócio até ao pequeno lagarto, que se transmuta diariamente e cujo olhar protagoniza o primeiro plano do filme. (AJM)