A sessão de encerramento desta edição do Curtas inclui a apresentação da mais recente realização do francês Eugène Green, o mais português dos cineastas nascidos nos Estados Unidos. Apaixonado por Portugal, fluente em língua portuguesa, o realizador de “A Religiosa Portuguesa” (2009) volta a Lisboa para filmar “Como Fernando Pessoa Salvou Portugal”, uma viagem ao universo de Fernando Pessoa protagonizada por Carloto Cotta e que conta ainda com a participação de Diogo Dória, Ricardo Gross e Manuel Mozos. Este “mini-filme”, como surge no genérico, aborda um dos episódios mais célebres da carreira publicista de Álvaro de Campos, “poeta decadente e pederasta educado nos Jesuítas”, autor do célebre slogan “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”, criado em 1927 para a entrada da Coca-Cola em território português, mas que viria a ser proibida pela justiça portuguesa e pelo Estado Novo, e só viria a ser comercializada em Portugal precisamente 50 anos depois. Ao contrário do que diz Fernando Pessoa neste filme, o “gosto cultural” (ou o olhar cinéfilo, se preferirmos) de Green mantém-se fiel a si próprio, cultivando o rigor dos planos e o lirismo espartano das palavras que caracterizam o seu cinema. Mais uma vez, “Como Fernando Pessoa Salvou Portugal” consegue conciliar uma aparente contradição entre a imobilidade do plano e a dinâmica na montagem, envolvendo e seduzindo o espectador ao ponto de o convidar a entrar no filme, como se estivesse posicionado entre as personagens nos seus constantes diálogos. Mais do que uma reflexão sobre Portugal, “Como Fernando Pessoa Salvou Portugal” é uma declaração de amor a Lisboa, à sua luz solarenga e aos seus recantos barrocos, dois elementos que continuam a apaixonar Eugène Green. De resto, a cena à luz das velas entre Fernando Pessoa e Álvaro de Campos, em que uma luz amarela queima o ar, denuncia a singularidade do olhar do realizador e do seu cúmplice Raphaël O'Byrne, o habitual diretor de fotografia. (PC)