Durante a noite, uma rapariga percebe que a sua namorada desapareceu depois de terem tido sexo. Não a encontra em casa, e esta não atende o telemóvel. Preocupada, sai à rua à sua procura, mas depara-se apenas com a escuridão e o silêncio da noite. Desde logo, as referências ao sexo e à homossexualidade são raras em filmes iranianos e inferem a qualidade disruptiva deste filme. Durante esse passeio noturno, a protagonista depara-se primeiro com um cenário sobrenatural, dada a ausência de qualquer outra pessoa na rua. Mas, quando encontra um estranho ao longe, o foco desloca-se para o mistério sobre quem será aquele homem. Num filme que conhece várias metamorfoses, em permanente estado de mutação, espelho das complexidades de um país com várias caras, quando o homem aborda a rapariga, o perseguidor passa a perseguido, e a questão passa para o papel do género nas relações de poder de um sobre o outro. Porém, à medida que a rapariga se aproxima de casa, e da segurança do condomínio fechado de um bairro rico, percebemos que também está em causa a questão de classe social. Este filme, que foi apresentado em competição no Festival de Cannes, marca a primeira presença de Saeed Jafarian no Curtas. (JA)