A estreia do ator Miguel Nunes (“Cartas de Guerra”, “Cisne”) na realização resulta num filme naturalista e poético, um retrato a diferentes tempos de vários planos: a cidade de Lisboa como ponto de transição e de passagem, o verão como tempo de indefinição, uma relação como promessa de algo mais. Não é por acaso que começamos pelo fim, com um questionário para obtenção de um visto, onde fica logo tudo exposto: Miguel apaixonou-se por um rapaz no verão passado e quer ir a Nova Iorque à sua procura. Contado para trás a partir deste momento, pequenas vinhetas compõem aos poucos esse romance como um novelo que se vai desenrolando: primeiro a saudade, depois a intimidade, a descoberta e o encontro. As voltas trocadas a este torvelinho emocional são um reflexo de um mundo de sazonalidade, de instabilidade profissional e sentimentos fugidios, que reforçam a efemeridade das ligações pessoais. Ao olhar para trás, ao pausar o tempo, o filme parece querer suspender tudo, num elogio à melancolia das memórias. (JA)