Um narrador conta várias histórias sobre mortes próximas a si, descrições de familiares conhecidos e estranhos encontrados na rua, de doenças prolongadas e de mortes súbitas, perante uma sucessão de fotografias que apresentam os falecidos. Este confronto entre a presença prolongada das imagens de pessoas que, pela partilha do narrador, descobrimos mortas, e as suas histórias de vida e morte, criam um efeito por vezes anestesiante, por vezes inquietante. Por um lado, a naturalidade com que o narrador conta estes testemunhos pessoais, os detalhes ora macabros ora enternecedores sobre os falecidos, e a própria sucessão cronológica, parecem apontar para uma aceitação da ordem natural das coisas. Porém, se este é um relato do embate do narrador com a mortalidade dos que estão à sua volta, da fragilidade da vida e da sua perseverança, é também, em último plano, um confronto com a sua própria mortalidade, com a sua existência. (JA)