Projeção de filme 16mm, 3’, loop, cor. Cubo de acrílico com água s/ base giratória. 2 canais de som, estéreo. “Non terrae plus ultra, no hay tierra más allá” para aqueles que ousem cruzar as colunas de Hércules, que delimitam o fim do mundo conhecido. Esta velha lenda grega caiu no esquecimento e, mutilada, converteu-se no lema do ainda embrionário Estado Espanhol. As ilhas Canárias, as “afortunadas” – que nesse momento ainda não tinham sido conquistadas na totalidade pelos castelhanos – foram a última terra que os marinheiros de Cristóvão Colombo pisaram antes de chegar à América. Esse território converteu-se num laboratório, num banco de provas onde se desenvolveram muitas das estratégias e modelos sociais exportados pelos conquistadores para o “novo mundo”, e que se tornaram letais para os aborígenes que as povoavam. Atualmente, as suas múmias, expostas nos museus de história e antropologia, longe do lugar em que alguns decidiram permanecer, são os únicos testemunhos daquele tempo que nos lembra que todo o documento cultural não é senão um documento da barbárie. A sua história, como a das mulheres, foi negada insistentemente pelo relato oficial. Os seus vestígios deixaram um rastro oculto que, ainda que borratado e impreciso, nos chega hoje com a potência da uma revelação, permitindo-nos questionar e subverter as crenças em que se fundamenta este Estado. Em analogia com a ideia da história oficial como construção ideológica, que simplifica e mutila tudo o que sai da sua copa, neste espaço, o projetor, construído para eliminar todas aquelas “aberrações luminosas” que a luz gera, revela-nos os reflexos fantasmagóricos e visões a partir das imagens do nosso filme “Plus Ultra”. Através da imersão, evocamos um estado latente e subterrâneo, uma viagem sob a influência da água, da luz e do som.