Numa quente tarde de verão, uma piscina, muito pouco atrativa, é o refúgio dos habitantes da pequena vila de Montánchez, situada na Estremadura espanhola. E se o título do filme pode remeter para o livro do pensamento religioso popular da Idade Média que conta lendas das vidas dos santos, vidas perfeitas, de ouro, quem aqui se apresenta é a gente comum, ostensivamente imperfeita, na sua vivência mais mundana. Divertem-se e transgridem com a devoção à santa padroeira Nossa Senhora da Consolação do Castelo como pano de fundo, em que o sagrado e o profano se insinuam constantemente em pequenos apontamentos: a aparição da virgem, o milagre de caminhar sobre as águas, as profecias bíblicas, os livros e os rituais satânicos. Tudo numa tarde, na tal piscina municipal. Num filme que olha a cultura popular e a religiosidade com humor, “Leyenda Dorada”, de Chema García Ibarra e Ion de Sosa, marca o regresso do primeiro ao Curtas Vila do Conde onde já apresentou “Mistério” (2014) e “La Disco Resplandece” (2018). (NM)