Misterioso objeto, realizado por Pham Ngoc Lan e estreado na Berlinale, “Blessed Land” mostra o Vietname a partir de um lugar diferenciado. Talvez se deva à concretude do preto-e-branco das imagens que, transfigurando as tonalidades mais quentes do sudeste asiático, se coloca em tensão com o próprio ambiente do filme, solene e, por vezes, onírico. Acompanhada pelo filho, uma mulher regressa a uma antiga vila de pescadores para visitar os restos mortais do seu marido. Mas encontrar a lápide revela-se mais difícil do que o que parecia. As dunas deste antigo cemitério servem agora de terreno para campos de golfe, onde os novos ricos da cidade se engalanam. Através de um dispositivo binocular, que privilegia aproximações e afastamentos dentro do plano, Lan lança um olhar crítico sobre a relação da sociedade contemporânea com o sagrado, a morte (e a supremacia da vida e dos vivos) e a memória individual, bem como com a sua respetiva mercantilização. Estarão os lugares da morte à venda? (AJM)