Depois de “Cops Are Actors”, selecionado para o Curtas em 2018, Tova Mozard traz a Vila do Conde um novo trabalho. Na sinopse lê-se que o filme estuda o fenómeno dos videntes da área de Hollywood, onde funcionam como uma espécie de terapia acessível. Descobrimos também, no texto fornecido pela artista, que as vozes dos psíquicos que ouvimos no filme foram gravadas por microfones escondidos em sessões reais, em que uma jovem mulher se submeteu às sucessivas leituras. Deste modo, ficam esclarecidas as principais dúvidas de quem o vê sem esta preparação e justifica-se o jogo algo irónico que a realizadora faz ao aparecer em salas de arcade games e Karaoke, sugerindo que a mediunidade participa na sociedade do espetáculo. Percebe-se também porque predominam os ambientes noturnos e os planos fixos que isolam as fachadas na escuridão e evidenciam as vitrines e os neons iluminados. Algo de falso e questionável ressalta nestes neons, que nos lembram os excessos da publicidade e do jogo, mas também da arte, que abraçou tudo o que é pop. Se o questionamento da verdade está implícito na mediação que os filmes fazem da realidade, parece também evidente que no mundo mediúnico (tal como no mediático) não há mentira que não contenha alguma verdade. (CA)