A meio da primeira imagem do filme, uma frase do autor interrompe a ação para partilhar a sua análise ao que vemos: “quando encontrei esta fotografia, pensei que era de outra altura… do tempo da escravatura?”, mas outros elementos desmentem essa suposição. Estamos afinal em 1907, em Angola, e a imagem de negros acorrentados ainda persiste. Uma impressionante exploração e meditação sobre um registo fotográfico que retrata os efeitos de ocupação (denominada na altura de “campanha de pacificação”) levada a cabo pelo exército Português sobre o povo Cuamato no sul de Angola, após as conferências de Berlim de 1884-85, que resultaram na partição territorial de África pelos países europeus. A partir de um trabalho de pesquisa de arquivo, este é um retrato valioso da bravura e da resistência de um povo até à sua queda. Apesar de ser construído apenas com o recurso a fotografias, a música sombria amplifica o sentimento de assombro das imagens, e algumas linhas de texto ajudam a dar contexto ao que vemos. Porém, o que comove e que é feito de forma extraordinária, é a forma como a câmara move-se pelas fotografias para revelar pormenores, caras e expressões, diferentes histórias dentro da mesma imagem-plano, e uma narrativa inesquecível. Esta é a estreia do consagrado realizador Billy Woodberry no Curtas. (JA)